Netanyahu avisa rebeldes sírios contra "reimplantação" iraniana

por Graça Andrade Ramos - RTP
Forças de Israel do lado Sírio dos Montes Golã Shir Torem - Reuters

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ameaçou esta terça-feira reagir em força se os novos senhores da Síria autorizarem o Irão, aliado do presidente deposto Bashar al-Assad, "a reimplantar-se" no país.

"Se o novo regime na Síria permitir ao Irão reimplantar-se, ou autorizar a transferência de armas para o Hezbollah" libanês, pro-iraniano, " ou nos atacar, nós reagiremos em força e irão pagar caro", ameaçou Netanyahu.

O primeiro-ministro israelita garantiu contudo que "queremos relações com o novo regime na Síria", dando a entender que pretende que estas sejam pacíficas."Não temos intenção de interferir nos assuntos internos da Síria, mas claramente pretendemos fazer o necessário para garantir a nossa segurança", afirmou Netanyahu.

Nesse sentido, "autorizei a força aérea a bombardear capacidades militares estratégicas deixadas pelo exército sírio, para que não caiam nas mãos dos jihadistas", acrescentou o primeiro-ministro, em declarações gravadas na rua a partir de Telavive.

"O que aconteceu com o antigo regime também acontecerá com este", advertiu.

O exército israelita confirma a execução de mais de 480 ataques em 48H00, a diversos pontos em todo o país vizinho desde domingo. 

A operação, uma das maiores em anos recentes, visou alvos militares e, de acordo com um balanço do exército israelita, destruiu mais de 80 por cento das capacidades militares estratégicas do antigo governo de Bashar al-Assad, incluindo depósitos de mísseis, aviões de combate, veículos armados, radares, baterias antiaéreas, aeródromos e dezenas de locais de produção de armamento, em Damasco, Homs, Tartus, Lataquia e Palmira.

Israel confirmou também a neutralização das armas químicas, uma das heranças do regime de Assad.

De visita a uma base naval israelita em Haifa, no norte de Israel, o ministro da Defesa, Israel Katz, referiu ainda uma "operação de grande envergadura" segunda-feira contra a frota síria, que terá destruido 15 navios de guerra estacionados no porto de Latakia, além de mecanismos de defesa e radares da base.
Zona "isenta de armas"
Além dos ataques à distância, as Forças de Defesa de Israel assumiram ainda posições nos Montes Golã, numa área de segurança fronteiriça sob custódia das Nações Unidas. As IDF ocuparam nomeadamente um posto militar abandonado na encosta síria estratégica do Monte Hermon, que domina Damasco.

Relatos de origem síria, de que a ocupação militar se estendeu até à cidade de Qatana,  a cerca de 25 quilómetros da capital síria, foram contudo desmentidos. 

Um porta-voz militar israelita afirmou que as tropas do país se mantêm na zona tampão criada no território sírio após a guerra israelo-árabe de 1973, tendo avançado mais apenas "nalguns pontos adicionais" fora dessa zona, de ambos os lados, sem ganhar território sírio significativo. 

A mesma fonte assegurou que Israel não pretende avançar sobre a capital síria.

"As forças da IDF não estão a avançar para Damasco. Isto não é algo que estejamos a fazer ou a tentar sob qualquer forma", afirmou o tenente Nadav Shoshani, em conferência de imprensa.

Katz, anunciou contudo esta terça-feira que deu ordem ao exército para estabelecer na Síria "uma zona isenta de armas e de ameaças terroristas, sem presença permanente".

O ministro não precisou a localização de tal área, mas o fito, acrescentou, será "impedir que o terrorismo se organize na Síria". "Não iremos permitir isso, não iremos permitir ameaças ao Estado de Israel", afirmou. 

Observadores acreditam que a zona irá estender-se um pouco além da zona tampão já existente entre ambos os países desde 1974.
EUA negam envolvimento
O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, garantiu por seu lado que a Administração Biden não está envolvida nas operações israelitas.

Em conferência de imprensa esta terça-feira, Kirby referiu apenas que Telavive assegurou a Washington que estas ações são "medidas temporárias para garantir a própria segurança" de Israel, acrescentando que Jake Sullivan, conselheiro para a Segurança Nacional, irá a Israel esta quarta-feira.

A comunidade internacional vê com receio as operações militares de Israel e as Nações Unidas sublinharam que se opõem a qualquer violação da integridade territorial da Síria.

Stephane Dujarric, porta-voz de António Guterres, secretário-geral da ONU, frisou que a organização se opõe a este tipos de ataques.

"Penso que este é um ponto de viragem para a Síria. Não deveria ser utilizado pelos seus vizinhos para invadir o território da Síria", criticou, em conferência de imprensa esta terça-feira.

Os Emirados Árabes Unidos condenaram nos termos mais firmes esta apreensão territorial israelita nos Montes Golã e a Turquia, que apoia parte dos grupos rebeldes da Síria, disse que Israel sofre de uma "mentalidade de ocupação".
PUB